Júlia Lopes de Almeida (1862-1934)

ISBN: 978-65-00-51398-1

Escritora, contista, ensaísta, conferencista e dramaturga brasileira

Infância e Juventude

Júlia Lopes de Almeida. – por Richard Hall/ Fonte: Acervo Cláudio Lopes de Almeida.

  

  Júlia Valentina Lopes da Silveira nasceu em 24 de setembro de 1862 no Rio de Janeiro. Foi a sexta dos sete filhos do casal de portugueses Valentim José da Silveira Lopes e Antônia Adelina do Amaral. O pai foi um médico e entusiasta da educação – em sua autobiografia há relatos de diversas empreitadas na educação dos analfabetos e desvalidos, tendo ele fundado algumas instituições e cursos antes mesmo de Júlia Lopes nascer; já a mãe, filha de um casal de nobres portugueses (cuja condição atribuiu a si e ao marido o título de Viscondessa e Visconde), foi uma concertista formada pelo Conservatório de Lisboa.  No Rio de Janeiro, Valentim fundou o Colégio Humanidades, sobre o qual Vidal (2004) comenta ter sido transferido para Nova Friburgo (RJ), local onde os Viscondes residiram com a família por 3 anos, até 1866. De volta ao Rio de Janeiro, a família Lopes permanece na capital por mais 3 anos.

  Por conta de uma saúde fragilizada, Júlia Lopes recebe uma educação doméstica (SALOMONI, 2013), tendo aulas com sua irmã mais velha, Adelina Lopes – professora formada pela Escola Normal do Rio – e ainda com professoras de Inglês e Francês. Aos sete anos, em 1869, muda-se com os pais e os irmãos – Adelina, Maria José, Valentim, Adelaide e Alice – para Campinas, e por lá permanecem até 1885. A cidade fora palco de boa parte das memórias de infância e juventude de Júlia Lopes: “Nas suas conversas familiares ou nas suas frequentes referências ao passado, era sempre Campinas o palco de suas memórias de criança, o cenário de suas primeiras emoções de moça.” (ALMEIDA, 2015, p. 178-179)

Primeiros passos

  É nesta cidade que a jovem Júlia Lopes, aos 19 anos, tem seu primeiro ensaio publicado na imprensa, no periódico Gazeta de Campinas. Tratava-se de um texto sobre Gemma Cuniberti, uma atriz mirim italiana de talento reconhecido nos palcos e na imprensa. A partir daí, torna-se colaboradora do jornal por 19 anos. Dos artigos da Gazeta de Campinas, alguns tornam-se parte do livro Traços e Iluminuras (1887), o segundo de mais de 30 volumes que Júlia Lopes viria a escrever e de Contos Infantis (1886), primeiro livro de Júlia Lopes, publicado em Portugal em parceria com sua irmã Adelina, e que fora amplamente adotado nas escolas primárias e que teve 17 edições, cada uma com 5000 exemplares, um número expressivo à época. (ELEUTÉRIO, 2005)

  Ainda na década de 1880, começa a colaborar com o popular O Paiz, onde a escritora assinou mais de 2 colunas no jornal, e escreveu por quase 2 décadas. Inicia sua colaboração em A Semana, revista dirigida por Valentim Magalhães e Filinto de Almeida, poeta português com quem Júlia Lopes se casa em 1887, passando a assinar Júlia Lopes de Almeida.

  Data da mesma década a publicação de seu primeiro romance – Memórias de Marta, em 1888. O texto, que apareceu incialmente sob o formato de folhetim – aspecto comum de quase todos os seus romances – no periódico Tribuna Liberal no mesmo ano, foi publicado novamente em 1930. Seguindo a publicação de Memórias de Marta, Júlia Lopes de Almeida publica A família Medeiros, em 1892. O romance, ambientado em uma fazenda de café do século XIX, narra a história da heroína Eva, uma mulher forte e independente. A presença de personagens femininas nos romances de Júlia Lopes de Almeida torna-se uma característica essencial de sua escrita, que circunscreve, principalmente, o ir e devir dessas mulheres. Ainda no final do século XIX, saem as publicações de Livro das Noivas (1896) e A viúva Simões (1897). A edição 9 da portuguesa Serões comenta as obras: “A Viúva Simões e as Memorias de Martha, novellas duma psychologia feminina ao mesmo tempo delicada e forte, cheia de graça e cheia de verdade; o Livro das Noivas, escola peregrina de esposas e de mães”. A respeito deste último, Margarida Lopes de Almeida, filha da escritora, relata em sua “Biografia de D. Júlia” que Contos Infantis e Livros das Noivas “[tiveram] sucessivas edições” (ALMEIDA, 2015, p.187-188).

Reconhecimento e consagração

  Em 1901, é lançado A falência, pela typographia A Tribuna. O romance fora uma de suas obras mais prestigiadas pela crítica, o que lhe garantiu reimpressões em diferentes momentos ao longo da Primeira República. Wilson Martins (2010), na constituição de sua obra sobre a inteligência brasileira, afirma que a escritora alcança ampla notoriedade com a publicação de A falência: “O ano de 1902 foi um dos mais fecundos e determinantes de nossa história intelectual (…) Não há dúvida de que a inteligência brasileira vivia um momento de extraordinária criatividade.”  Adiante, adensa:

Muito bem escrito e sustentado até o fim da sombria nota dramática, o romance de Júlia Lopes de Almeida, influenciado, como ficou dito, por Eça de Queirós, nada perderia, entretanto, na comparação com os melhores livros do mestre; há excelentes anotações da vida urbana, no bairro das grandes casas atacadistas e incursões nas zonas pobres da cidade; depõe mais contra a crítica que um romance dessa qualidade tenha praticamente caído no esquecimento. (MARTINS 2010, p.218)

  

  É nos primeiros anos do século XX que a carreira da escritora deslancha. Além de ter seu nome e imagem estampados em dezenas de periódicos e 12 livros publicados entre 1886 e 1919, D. Júlia – como passa a ser referida pelos pares e admiradores de seu talento – tem sua obra consagrada pela crítica, crítica esta composta por homens de letras, muitos cujo aspecto comum era o pertencimento à Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897.

  Em 1914 a escritora é homenageada com um banquete ofertado pelos escritores da alta estirpe brasileira e por alguns intelectuais franceses, incluindo membros da Sociedade dos Homens de Letras (Société des gens de lettres – SGDL). O evento, noticiado nos periódicos brasileiros e franceses, evidencia a popularidade e a alta estima com a qual Júlia Lopes de Almeida era tratada e vista pelos pares. No ano seguinte, o Jornal do Commercio, um dos periódicos de grande popularidade da época, promoveu uma festa em ocasião do aniversário da escritora, em 24 de setembro de 1915. O evento, ocorrido no prestigiado salão do periódico, contou com a presença de diversos poetas e prosadores, entre eles, Alberto de Oliveira, Humberto de Campos, Maria Eugenia Celso, Olavo Bilac e João Luso.

  Em 1916, é criado, na cidade de Cuiabá (MT), o Gremio Litterario Julia Lopes, fundado por mulheres da elite mato-grossense. A agremiação, que tinha por finalidade a promoção das letras patrícias (femininas), tinha na imagem da escritora uma espécie de modelo a seguir. Muito embora não tenha sido um dos 40 membros da Academia Brasileira de Letras, apesar de ter participado ativamente das reuniões que deram origem à formação da associação de escritores, Júlia Lopes de Almeida é patrona da cadeira 26 da Academia Carioca de Letras, foi sócia correspondente do Congresso Maranhense de Letras, e é ainda patrona da Academia Friburguense de Letras.

  Em 1952, foi criado, em resposta a um pedido de Filinto de Almeida, imortal da ABL, o Prêmio Júlia Lopes de Almeida da Academia Brasileira de Letras. A premiação correspondia aos volumes em prosa, gênero que consagrou a escritora. Fanini (2009) indica que foram 12 as escritoras que receberam o prêmio: Ondina Ferreira, Zilah Corrêa de Araújo, Heloneida Studart, Maria do Rosário Fleury (Rosarita Fleury), Stella Leonardos, Maria Eugênia Porto Oliveira Ribeiro, Berenice Grieco, Stela Tostes, Maria Cibeira Perpétuo, Maria Silveira Nunes Galvão, Cecília Bezerra de Rezende, Elza Heloísa.

  A morte da escritora, no dia 30 de maio de 1934, em decorrência de complicações da malária, repercutiu na imprensa e chegou aos gabinetes da presidência da República. Getúlio Vargas, assim como muitos escritores e intelectuais da época, enviou a Filinto de Almeida suas condolências através de telegrama.

  Nos diversos textos escritos  em sua homenagem, sua trajetória como intelectual e sua obra são destacadas, sendo a escritora memorada como publicam A Noite, Correio da Manhã, A Violeta e O Paiz por sua “espiritualidade educativa”, sua “contribuição para a formação e desenvolvimento de grandes números de instituições educativas e de caridade”, ou suas “obras educativas didáticas ou não, a par de primorosos romances, todos moralistas, instrutivos e nacionalistas”, /dos quais se destaca uma “notável parcela de caráter educativo.”, respectivamente.

Vestígios na e para a Educação

  Colaboradora assídua na imprensa, especialmente a carioca, Júlia Lopes de Almeida buscou ressaltar o valor da educação para a infância e para as mulheres. Ao longo das mais de duas décadas de colaboração com o popular O Paiz, a escritora reivindicou melhores escolas, pleiteou a abertura de instituições noturnas e creches, confrontou a decisão de fechar o curso noturno da Escola Normal, sugeriu a mudança de local do Liceu de Artes e Ofícios, entre outros.

  Nos jornais e revistas de temática infantil e/ou educacional observa-se também a figura da escritora carioca. Seja por meio da publicação de seus textos, através das cartas de leitores mirins de suas obras destinadas ao público infantil ou ainda na indicação de seus livros como parte do plano de aula de professores, tal como em A Escola Primária (RJ), o nome de Júlia Lopes de Almeida esteve associado, mesmo após sua morte, a temáticas educacionais. Muito dessa ligação com a educação de crianças e jovens tem relação direta com seus livros destinados a esse público.

  Sobre seus livros, 5 de suas obras são consideradas educacionais, infantis e/ ou escolares – Contos Infantis (1886), Histórias da Nossa Terra (1907), A árvore (1916) Era uma vez (1917) e Jornadas no meu país (1920).

  Contos Infantis, escrito em parceria com a irmã Adelina Lopes Silveira, é uma composição de “narrações singelas e histórias simples’, com a finalidade de uma “educação moral e estética”, como anuncia o prefácio da 6ª edição, publicada pela Laemmert em 1905. Nesta edição consta ainda a inscrição “adoptados para uso nas escolas primarias do Brasil”, o que evidencia seu uso e justifica sua popularidade entre os volumes do gênero.

  Para Lajolo e Zilberman (1988), Histórias da nossa terra apresenta elementos comuns do projeto cívico-pedagógico do início do século XX: o culto cívico, a exaltação à natureza, a língua e a bandeira nacional e o patriotismo. O volume teve mais de 20 edições entre 1907 (data da primeira edição) e 1930. Como salienta Silva (2020), em 1915 houve a requisição de exemplares para as escolas primárias da capital. Ainda em periódicos de educação, como em algumas edições  de A Escola Primária (RJ), onde volume é indicado como livro de leitura para sala de aula primária; na primeira edição da Revista Bibliográfica (RJ), um anúncio da lista de leituras indicadas às “várias idades infantis”, onde figura o volume na seção “Biblioteca de Histórias e Historietas”.

  A árvore, escrito em colaboração com Afonso Lopes de Almeida, filho da escritora, compõe o que alguns estudiosos de Júlia Lopes de Almeida chamam de apostolado rural. Isso por conta de uma narrativa que privilegia os elementos da natureza – a mata e a flora- como objetos de apreciação e conservação. No volume, a escritora apresenta uma coletânea com mais de 30 textos que falam de diferentes espécies de árvores. Com linguagem simples e fluida, o livro chegou a ser também utilizado na escola, como indicam as narrativas em Jornadas no meu país, quando a escritora comenta com satisfação a compra de exemplares pelo governo para adoção nas escolas riograndenses.

  Era uma vez fora escrito à semelhança de um conto de fadas e narra a história de Edeltrudes, uma princesa “cheia de vontades imperiosas” (ALMEIDA, 2020, p.34). O caráter moralizante do texto é evidenciado na transformação da personalidade egoísta e má da princesa para uma jovem piedosa e afetuosa, características desejáveis às meninas e moças do início do século XX, quando a educação de meninas era estritamente ligada às virtudes e ao bom comportamento. É também na edição da Revista Bibliográfica (RJ) citado como exemplar da lista de volumes da “Biblioteca de Histórias e Historietas”.

  O último de seus livros onde há um intuito educacional é Jornadas no meu país. Nele evidencia-se a temática de aventura, alinhada a uma certa dose de geografia. Escrito sob forma de diário de viagem, Jornadas no meu país narra o trajeto feito por Júlia Lopes de Almeida às terras sulistas no início do século XX. Aspectos como a música e as artes, os transportes, o esporte, a educação, a política, as tradições, o trabalho, os costumes da elite, o sistema prisional e a variante falada no estado são apresentados ao leitor, em uma espécie de enciclopédia do local. Na edição 3020 do periódico A Noite (RJ), de 1920, lê-se:

São as páginas dessa nova obra um vasto kaleidoscopio em que a chronista de viagem, de vez em quando, se revela a, romancista c a educadora que é, não deixando, até assim, de se mostrar sempre grandiosa até mesmo quando pretende mostrar-se em toda a sua simplicidade. (trecho da coluna “Livro do dia”, sobre o livro Jornadas no meu país, p.4)

  

  Em outra publicação, desta vez na popular Revista Feminina (RJ), o volume é citado como um “interessantíssimo livro de viagens da grande escriptora brasileira d. Julia Lopes de Almeida, livro que todas as senhoras devem ler para educação e recreio do espirito.” (Edição 74, p. 26)

  Para além de sua bibliografia infantil, escolar e educacional, as conferências proferidas pela escritora – sobre temáticas que privilegiavam a vida das mulheres, a arte, a ecologia e a educação, foram também uma de suas colaborações para o circuito educacional de seu tempo. Nesse sentido, algumas conferências que aconteceram em diferentes estados brasileiros, a exemplo de São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e da própria capital federal, o Rio de Janeiro, ocorreram nas próprias instituições escolares, onde a escritora participava, por vezes, de cerimônias de inauguração de espaços e/ ou formaturas, além de homenagens recebidas pela escritora nas escolas, a exemplo da Festa Nacional de homenagem à D. Júlia Lopes de Almeida na Escola Deodoro, no Rio de Janeiro, em 1923. A criação de clubes ou grêmios literários nas escolas pôde ser observada, a exemplo do Clube literário Júlia Lopes de Almeida, da Escola Municipal Colômbia, em 1942.

  Ainda em 1939, o periódico A Gazetinha (SP), um encarte de A Gazeta (SP), anuncia a criação da Academia de Letras dos Jovens do Brasil, a qual seria mantida e patrocinada pelo próprio periódico. Dentre os patronos da Academia, Júlia Lopes de Almeida figura na cadeira no 30, representando um dos escritores de “Contos de Aventuras”, uma das 5 categorias utilizadas para a divisão das cadeiras.

  Em 1936, portanto dois anos após a morte da escritora, foi inaugurada na sua cidade natal a Escola Municipal Júlia Lopes de Almeida. Em 1944, no seu aniversário de morte, a escultora e declamadora Margarida Lopes de Almeida presta homenagem à mãe. A instituição, hoje em funcionamento, está localizada no bairro de Santa Tereza na cidade do Rio de Janeiro e abriga uma parcela do acervo bibliográfico da escritora, doado pela família de Júlia Lopes de Almeida.

  Na cidade de Cuiabá, em 1946, foi a fundada a Escola Doméstica D. Júlia, sob influência das ideias da escritora, de acordo com as publicações de A Violeta (MT), revista feminina cuiabana do Gremio Litterario Julia Lopes. Como cita Pinto (2021), em uma das cartas enviadas por Júlia Lopes de Almeida à revista -publicada na edição 335-336-, a escritora advoga a favor de uma escola que pudesse oferecer uma educação mais completa às meninas cuiabanas: (…) como se sabe, as Escolas Domésticas na Europa são frequentadas por meninas e moças de todas as classes. As ricas como as pobres vão procurar no seu ensinamento a prática que as esclareça de seu governo em sua própria casa. (p.9). A Escola Doméstica “Dona Júlia” parece ter promovido uma educação fincada nos preceitos morais e religiosos ora pregados. Instituição exclusivamente feminina, atendia aquelas que tinham na educação doméstica uma via possível de formação “doméstico-profissional”.

  Além da escola no Rio de Janeiro e da Escola Doméstica em Cuiabá, outras instituições escolares receberam o nome da escritora, em diferentes estados brasileiros. Em Belo Horizonte (MG), a Escola Estadual Júlia Lopes de Almeida; em São Paulo (SP), Escola Estadual Júlia Lopes de Almeida e Escola Júlia Lopes de Almeida, em Osasco (SP); em Soledade (RS), Escola Estadual Ensino Médio Júlia Lopes de Almeida; Em Tamarana (PR), Escola Júlia Lopes de Almeida; e em Blumenau (SC), a Escola de Educação Básica Júlia Lopes de Almeida.

Legado

  Embora tenha desenvolvido, ampla e ativamente, carreira na literatura nacional e tenha sido, ainda em vida, reconhecida por seus pares, Júlia Lopes de Almeida permaneceu  na penumbra por quase 4 décadas até que se pudesse teorizar sobre sua biografia, sua bibliografia e sua trajetória intelectual. Difícil imaginar que uma escritora de tal porte e com tamanha produção intelectual possa ter sido delegada ao rol dos esquecidos da Literatura Nacional, mas fato é que a Academia parece ter se dado conta de sua relevância e projeção no cenário literário e seu legitimado – embora não oficializado até então – pertencimento ao cânone tão tardiamente.

  Nem mesmo os relatos de Cecília Meirelles (2016) no centenário de morte da escritora em 1962 sobre a afetuosa D. Júlia ou a presença de Júlia Lopes de Almeida no compêndio de Lúcia Miguel-Pereira em 1973 foram suficientes para que a escritora pudesse ter sua parcela de reconhecimento na Literatura Nacional do pós-estruturalismo.

  A exemplo do que houve com outras mulheres escritoras de seu tempo, a obra e trajetória de Júlia Lopes de Almeida só foi resgatada por meio de projetos à luz da formação do GT “Mulheres na Literatura”, grupo formado por associadas Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL), na década de 1980. A partir de então, a pesquisa acerca da historiografia, bibliografia, ecos e silenciamentos nas trajetórias dessas mulheres foram tomando corpo.

  Recentemente, a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) utilizou uma das obras de Júlia Lopes de Almeida, A falência, publicada pela primeira vez em 1901, em seu concurso vestibular e a adotou como parte das leituras obrigatórias, o que contribuiu amplamente para a (re)popularização de sua imagem e a expansão e inserção de sua obra no cânone literário. Seguindo o movimento da Universidade paulista, a Universidade Federal de Santa Catarina (USFC) adotou Ânsia eterna, livro de contos, tido por muitos críticos como exemplares de literatura gótica; a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que também selecionou A falência; e o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que adotou como obras de leitura prévia alguns contos de Ânsia eterna – “Ânsia Eterna’, “A caolha”, “A rosa branca”, “O caso de Ruth” e “In extremis”.

  Gabriela Trevisan (2021) relata que, na graduação da UNICAMP, na década de 2010, teve contato com algumas obras da escritora, a exemplo de Eles e Elas, um livro de monólogos, fruto da compilação de 3 colunas assinadas por Júlia Lopes de Almeida no jornal O Paiz, o que evidencia uma tentativa mais assertiva de inclusão da escritora no cânone literário e na Academia.

  Atualmente, as pesquisas que circunscrevem vida e obra de Júlia Lopes de Almeida somam algo em torno de 5 dezenas, de acordo com levantamento feito pelo Banco de Teses e Dissertações da CAPES. Investigações acerca de sua escrita, o feminismo – possível – de sua bibliografia, suas contribuições com a educação, seja por meio de obras utilizadas na escola ou por conta de sua voz latente na defesa da educação das mulheres, seu estilo, suas colaborações em periódicos, as relações com seus pares – em especial as mulheres e, ainda, as relações entre a escritora e sua própria obra vem sendo empreendidas.  Todas essas iniciativas fomentaram a constituição de sua fortuna crítica e pavimentaram o terreno para que mais pesquisas pudessem surgir.

  Assim, o legado de Júlia Lopes de Almeida circunscreve a literatura, a educação e a Academia, tornando-se fonte fecunda para pensar o Brasil do entre séculos e do início do século XX, especialmente e principalmente pela ótica feminina e feminista.

Bibliografia de Júlia Lopes de Almeida

a) Romances

1. Memórias de Marta (1888)

2. A família Medeiros (1892)

3. A viúva Simões (1897)

4. A falência (1901)

5. A intrusa (1908)

6. Cruel Amor (1911)

7. Correio da roça (1913)

8. A Silveirinha (1914)

9. Memórias de Marta – reedição (1930)

10. A casa verde (1932)

11. Pássaro tonto (1934)

12. O funil do diabo (2015)

b) Contos

1. Traços e iluminuras (1887)

2. Ânsia eterna (1903)

3. Eles e elas (1910)

c) Conferências

1. Brasil (1922)

2. Oração à Santa Dorotéa (1923)

3. Maternidade (1925)

d) Manuais

1. Livro das Noivas (1896)

2. Livro das Donas e donzelas (1906)

e) Infantis e/ou escolares

1. Contos Infantis (1886)

2. Histórias da nossa terra (1907)

3. A árvore (1916)

4. Era uma vez (1917)

f) Peças de teatro

1. A Herança (1909)

2. Teatro (1917)

g) Outros textos

1. Jornadas no meu país (1920) – relatos de viagem

2. A isca (1922) – novela

3. Dois dedos de prosa (2016) – crônicas

Referências

ALMEIDA, Júlia Lopes de; VIEIRA, Adelina Lopes de. Contos Infantis. São Paulo – Recife: Laemmert & C, 1905.

ALMEIDA, Júlia Lopes de. Autobiografia – texto manuscrito. Texto integrante do Acervo Cláudio Lopes de Almeida, s.d.

ALMEIDA, Júlia Lopes de. Era uma Vez. São José dos Pinhais/PR: Editora Estronho, 2020. E-book

ALMEIDA, Margarida Lopes de. Biografia de D, Júlia. In: ALMEIDA, Júlia Lopes de. O funil do diabo: romance. Organização e introdução Zahidé Lupinacci Muzart;. Florianópolis: Editora Mulheres, 2015.

ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Vidas de romance: as mulheres e o exercício de ler e escrever no entresséculos (1890-1930). Rio de Janeiro: TopBooks, 2005.

FANINI, Michele Asmar. Fardos e fardões: mulheres na Academia Brasileira de Letras (1897-2003). 2009. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. doi:10.11606/T.8.2009.tde-19022010-173143. Acesso em: 2022-08-01.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Um Brasil para crianças. 3. ed. São Paulo: Global, 1988.

LOPES, Valentim da Silveira. Breves notas de uma longa vida – Autobiografia do Dr.  Valentim da Silveira Lopes. Texto integrante do Acervo Cláudio Lopes de Almeida, s.d.

MARTINS, Wilson. História da Inteligência Brasileira: volume V: 1897-1914. 3aed. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2010.

MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho. 4ed. São Paulo: Global, 2016.

MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. História da Literatura Brasileira – prosa de ficção (1870-1920). Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.

PINTO, Gabrielle Carla Mondêgo Pacheco. A liberdade feminina assistida: a educação para mulheres na escola doméstica “Dona Júlia” (1946-1950). In: BRESSANIN, César Evangelista Fernandes; BALDINO, José Maria; ALMEIDA, Maria Zeneide Carneiro Magalhães de (Orgs.). Educação, História, Memória e Cultura em Debate – Volume IV: Educação e cultura em diferentes espaços sociais. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2021.

SALOMONI, Rosane Saint-Dennis. Apontamentos Biográficos. In: ALMEIDA, Júlia Lopes de. Pássaro tonto. Florianópolis: Editora Mulheres, 2013.

SILVA, Márcia Cabral da. “Histórias da nossa terra”: sobre o projeto cívico de construção da nação brasileira por meio do impresso. Revista Brasileira de História da Educação, v. 20, n. 1, p. e128, 24 jul. 2020.

TREVISAN, Gabriela Simonetti. A escrita feminista de Júlia Lopes de Almeida. Prefácio de Margareth Rago. São Paulo: Intermeios, 2021.

VIDAL, Diana Gonçalves. Julia Lopes de Almeida e a educação brasileira no fim do século XIX: um estudo sobre o livro escolar Contos Infantis. Revista Portuguesa de Educação, Portugal, v. 17, n.1, p. 29-45, 2004.

Fontes

A NOITE (RJ) – 1910- 1929. Ano X, n.3020, 9 de maio de 1920.

A NOITE (RJ) – 1930-1939. Ano XXIV n. 8085, 31 de maio de 1934.

A VIOLETA: Orgam do Gremmio litterario Julia Lopes. (MT) –   Ano XVIII, n. 217, 31 de maio de 1934.

A VIOLETA: orgam do Gremio Litterario Julia Lopes, ano XXVII, n.335-336, set/out 1946.

CORREIO DA MANHÃ (RJ) – Ano XXXIII n. 12119, 31 de maio de 1934.

O PAIZ (RJ) – Ano XLVIII, n.16991, 02 de junho de 1934.

REVISTA BIBLIOGRÁFICA(RJ). Ano I, n. 1, outubro de 1927.

REVISTA FEMININA (RJ) – Ano VII, n. 75, agosto de 1920.

SERÕES : revista mensal illustrada (PT) -1901-1911. Série II, vol 2, n.9, março de 1906.


Gabrielle Carla Mondego Pacheco Pinto

Doutoranda em Educação do ProPEd/UERJ.

Professora de Língua Inglesa da SME/RJ. 

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