Francisca Júlia (1871-1920) 

  Francisca Júlia da Silva Münster nasceu em São Paulo, no município de Xiririca, atualmente chamado de Eldorado Paulista, em 31 de agosto de 1871, filha do advogado Miguel Luso da Silva e da professora Cecília Isabel da Silva e irmã do poeta Júlio César da Silva. Desde sempre, demonstrava muito interesse em poesia e nos estudos. Com apenas 8 anos de idade seus pais se mudaram para a capital de São Paulo por conta dos estudos da filha. 

           Em 6 de setembro de 1891, publicou o seu primeiro poema intitulado Quadro Incompleto no jornal O Estado de São Paulo. Já no seu primeiro poema, traz o gosto e as escolhas literárias de uma escritora que preferiu ir pelas trilhas do movimento Parnasiano, deixando evidente também que valorizava e gostaria de cultivar algumas das características preconizadas pelo movimento: a forma do soneto, o rigor dos versos, a objetividade retórica do sujeito lírico, a descrição de paisagens e situações alheias à emoção lírica. A publicação rendeu a crítica negativa de Severiano de Rezende, um político, escritor, professor e advogado provisionado, que aconselhava a escritora a não escrever mais poesia e realizar outras ocupações, tais como os “trabalhos de agulha”. Atitude que não desencorajou a autora a continuar escrevendo. 

           Francisca colaborou no Correio Paulistano e no Diário Popular, o que lhe permitiu abrir as portas para trabalhar em O Álbum, de Artur Azevedo, e A Semana, de Valentim Magalhães, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, passou a escrever poesias para periódicos de São Paulo e Rio de Janeiro. Por conta de sua escrita impecável, alguns leitores chegaram a acreditar que o seu nome não passava de um pseudônimo e que seus versos eram da autoria de um homem.  

           Essa energia duvidosa acerca do trabalho da autora perdurou até meados de 1895, quando Francisca Julia publicou seu primeiro livro intitulado Mármores, com prefácio do filólogo e historiador João Ribeiro.  

           O seu livro teve uma boa recepção pela sociedade letrada da época. A obra recebeu elogios de Olavo Bilac, o maior poeta parnasiano do Brasil, Vicente de Carvalho, Araripe Júnior e outros. Ainda assim, alguns críticos tiveram a capacidade de contestar a originalidade dos versos da autora. De acordo com eles, a obra apresentava semelhanças com a poesia do cubano José María de Heredia. 
 
           O seu segundo livro foi direcionado às crianças, o Livro da Infância, publicado em 1899 mostrou a preocupação da autora com a educação literária das crianças. A obra trazia pequenos contos e versos “simples na forma, fluentes na narrativa e escritos no melhor e mais puro vernáculo”, conforme acentuou Júlio César da Silva, ao prefaciar o livro. 
 
           Esta obra foi adotada por escolas públicas e particulares da época com uma proposta de educar os jovens acerca do conhecimento literário. Foi cofundadora da revista Educação em 1902. Em 1903, lançou novo livro de poesias intitulado Esfinges, prefaciado mais uma vez por João Ribeiro.  
 
           Em 1904, tornou-se membro do Comitê Central Brasileiro da Societá Internazionale Elleno-Latina, de Roma. Em 1906, morando na cidade de Cabreúva, cidade que fica a cerca de 90 quilômetros da Capital paulista, passou a ajudar a mãe em seu trabalho como professora, ou mesmo cuidando dos afazeres domésticos.  
 
           Em 1907, foi convidada a participar da Academia Paulista de Letras, mas rejeitou o convite, por não acreditar em academias. Em 1908, realizou palestra intitulada A feitiçaria sob o ponto de vista científico, em Itu, interior de São Paulo. 

           Em 1909, casou-se com Filadelfo Edmundo Münster, telegrafista da Central do Brasil. Durante alguns anos afastou-se da vida literária, dedicando-se exclusivamente ao lar. Em 1912 lança o seu último livro, Alma Infantil, em parceria com o irmão Júlio César da Silva, que se torna um sucesso e alcança notável repercussão nas escolas do Estado, quando grande parte da edição é adquirida pelo secretário do Interior, Altino Arantes. Em 1915, voltou a publicar sonetos na revista A Cigarra.  

           Em 1920, o marido da escritora morreu vítima de tuberculose. No dia em que ele foi sepultado, 1 de novembro, morreu também Francisca Júlia, em um provável suicídio. Seu corpo foi enterrado no Cemitério do Araçá, em São Paulo, ao meio-dia de 2 de novembro de 1920.  

           Foi apresentada proposta, pelo deputado estadual Freitas Vale, para se erigir um mausoléu em memória à poetisa, que seria construído no governo de Washington Luiz. Sobre essa escultura, as palavras de Menotti del Picchia dizem tudo: “A estátua que se ergue hoje no cemitério do Araçá, a Musa Impassível, é um mármore criado pelo cinzel triunfal de Victor Brecheret. Na augusta expressão dos seus olhos, do seu busto ereto, das suas mãos rítmicas, há toda a grandeza e a beleza daquela musa impassível da formidável parnasiana que concebeu e realizou a Danças das Centauras. O estatuário é bem digno da poetisa.” 

           No enterro da poetisa, estavam presentes Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Di Cavalcanti. Aos 46 anos, foi homenageada por seus admiradores, que ofereceram um busto seu, em bronze, para a Academia Brasileira de Letras. Teve seu trabalho publicado em várias revistas, como A Mensageira, Rua do Ouvidor, Kosmos, O Pirralho, A Época, Revista do Brasil, Revista da Semana, A Vida Moderna, Comércio de Campinas, Renascença

           A poeta foi uma das precursoras da inserção feminina na literatura a partir de uma perspectiva também feminina, pensando o corpo da mulher na literatura sob uma ótica também da mulher. A escritora enfrentou um sistema social pautado nos valores patriarcais e no silenciamento feminino, mas alcançou singular reconhecimento no cenário literário daquele período. No entanto, definhou-se ao longo do tempo até que se tornasse esquecida nas prateleiras das bibliotecas e carente de visibilidade e reconhecimento nos estudos científicos da atualidade. 

Lista de Obras 

Mármores (1985) 

Livro da Infância (1899) 

Esfinges (1903) 

A Feitiçaria Sob o Ponto de Vista Científico (1908) 

Alma Infantil, com Júlio César da Silva (1912) 

Esfinges – 2a edição ampliada (1921) 

Poesias (organizadas por Péricles Eugênio da Silva Ramos) (1962) 

Referências Bibliográficas 

BANDEIRA, Manuel. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938.   

PACHECO, Gabrielle Carla Mondêgo. Os deveres do pequeno cidadão em Alma Infantil: versos para uso das escolas (1912), Mestrado em Educação (Conceito CAPES 7). 

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil. 2015. 

Biblioteca Nacional Digital – Consultado em 12/03/2023 às 10h  

https://bndigital.bn.gov.br/dossies/periodicos-literatura/personagens-periodicos-literatura/francisca-julia-da-silva/

Brasil Escola – Consultado em 12/03/2023 às 11h  

https://brasilescola.uol.com.br/literatura/francisca-julia.htm

NÚCLEO Espírita Francisca Júlia. – Consultado em 13/03/2023 às 10h 

https://www.franciscajulia-ramatis.com.br/.

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin – Consultado em 13/03/2023 às 11h 

https://www.bbm.usp.br/pt-br/Selecao-BBM-digital/francisca-j%C3%BAlia-1871-1920/


Luiz Fernando da Costa Soares

Bolsista de Iniciação Científica (Cnpq/UERJ)

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