Viriato Corrêa

ISBN: 978-65-00-51398-1

Viriato Corrêa.
Fonte: Acervo Centro de Memória da ABL.

  Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho nasceu em 23 de janeiro de 1884 (MENEZES, 1978, p. 203), no povoado de Pirapemas, localizado no norte do estado do Maranhão. Após os primeiros anos escolares em sua terra natal, aos nove anos mudou-se para São Luís e mais tarde para o Recife, a fim de cursar a Faculdade de Direito. Sob o pretexto de terminar o curso jurídico na capital do país, Viriato mudou-se para o Rio de Janeiro, com a real intenção de investir na sua carreira literária (PINTO, 1966, p. 48), que teve início com a publicação de Minaretes, em 1902, coletânea de contos publicada pela agremiação Oficina dos Novos.

  Na então Capital Federal, passou a ter contato com a geração boêmia que marcou a intelectualidade brasileira no começo do século XX. Nas livrarias e cafés da cidade, Viriato conviveu com importantes nomes da literatura nacional, a exemplo de José do Patrocínio, Olavo Bilac e o próprio Machado de Assis. Graças à influência e prestígio de seu amigo Medeiros e Albuquerque, Viriato Corrêa obteve colocação na Gazeta de Notícias. Entre 1906 e 1907, assinou a coluna Gazeta das Crianças adotando para si o pseudônimo Fafazinho. A criação da seção “Concursos”, na qual eram publicados cupons com perguntas colecionados, respondidos e enviados pelos leitores à redação do jornal, rendeu a Viriato Corrêa contato muito próximo com as crianças, culminando com a exaltação da sua figura e o seu carisma.

  Sua receptividade junto ao público infantil que Viriato Corrêa obteve por meio da experiência com a “Gazeta das Crianças” fez com que em 1908 publicasse o livro de fábulas Era uma vez… em parceria com João do Rio, tendo o sucesso do Fafazinho contribuído para o seu reconhecimento junto às crianças, aos seus pais e à intelectualidade, de que já fazia parte com profícua atuação.

  Viriato Corrêa estava inserido na rede de sociabilidade chamada “República das Letras”, constituída por um grupo de intelectuais, escritores e jornalistas que circulavam nos cafés, salões e livrarias da então capital da República, no período que ficou conhecido como a Belle Époque brasileira (SEVCENKO, 2003). Entre seus integrantes, destacavam-se Coelho Neto, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Alcindo Guanabara.

  Ao mesmo tempo em que ampliava a sua rede de sociabilidade por meio da carreira jornalística, Viriato Corrêa iniciou a publicação de suas obras literárias, com narrativas sertanejas, civis e patrióticas, principalmente se dirigindo às crianças. Os maiores êxitos de Viriato Corrêa como escritor aconteceram por meio de obras histórico-patrióticas dirigidas ao público infantil: Contos da História do Brasil (1921), História do Brasil para Crianças (1934) e História da Liberdade no Brasil (1962), que posteriormente serviu de inspiração para que os carnavalescos da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro desenvolvessem o enredo para o carnaval de 1967.

  A inclinação ao tema foi notada também por sua atuação como professor de História e Geografia em escolas públicas normais do Rio de Janeiro, em passagens notadas por Pinto (1966) e pela imprensa da época. Digno de nota também é sua carreira política, tendo sido deputado estadual no Maranhão, em 1911, e deputado federal pelo Estado do Maranhão em 1927 e 1930.

  Bem sucedido também no teatro como autor, diretor e sócio de companhia, Corrêa tratou de temas de veia nacionalista, com suaves mudanças ao longo de sua trajetória como dramaturgo. No início, produziu peças teatrais musicadas como Sertaneja (1915), Sol do Sertão (1915), e Juriti (1919). Nos anos que se seguiram, a partir da década de 1920, passou a escrever as chamadas comédias de costumes, como Sapequinha (1920), Nossa Gente (1924), Zuzu (1924), Uma noite de Baile (1926) e Bombonzinho (1931). A respeito desta última, o sucesso alcançado na sua representação pela Companhia Procópio Ferreira marcou a sua reinserção nos circuitos culturais, após afastamento forçado da cena intelectual decorrente de sua oposição à Revolução de 1930 (CAVALCANTE, 2012, p. 38).

  Viriato Corrêa escreveu para o teatro a partir dos anos 1910, especialmente comédias de costumes regionalistas, como Sertaneja (1915), Juriti (1919) e Nossa gente (1920). Em 1921, participou do grupo Trianon, integrado também por Oduvaldo Viana, Abigail Maia e Nicola Viggiani, com a proposta de criar uma dramaturgia voltada para temas brasileiros. Ao final da década de 1930, a trajetória teatral de Viriato Corrêa contou com peças abordando temas históricos de matiz cívico-patriótica, como Marquesa de Santos (1938), Tiradentes (1939), O caçador de esmeraldas (1940) e À sombra dos laranjais (1944).  O escritor seguiu a tendência de outros teatrólogos da época, aproveitando o incentivo do Governo Getúlio Vargas a manifestações culturais que contribuíssem para o projeto de construção de uma “nova” nacionalidade.

  Não só pela montagem de A marquesa de Santos ficou marcado aquele 1938. Para o público infantil, Corrêa publicou Bichos e bichinhos, No país da bicharada e Cazuza, qualificado “romance infantil, espécie de autobiografia” (PINTO, 1966, p. 203). O biógrafo segue afirmando que Cazuza era o livro da maior estima do escritor, onde “conta pedaço de sua infância, relembra fatos passados lá em sua pequena Pirapemas, focaliza com ternura determinadas figuras que a idade e o tempo não foram capazes de apagar de sua memória” (PINTO, 1966, p. 203). Destaca também a fluidez da narração dos episódios, fictícios, mas que poderiam ser vividos visto que são o retrato daquela época naquele espaço.

  À publicação de Cazuza, sucedeu a sua indicação à cadeira de n.º 32 na Academia Brasileira de Letras, ocupada anteriormente por Ramiz Galvão. Viriato Corrêa almejou por muito tempo tornar-se um acadêmico, desejoso de uma vida de escritor mais independente dos editores. Candidatando-se três vezes e amargando derrotas seguidas, finalmente em 1938 o escritor alcançou seu objetivo.

Faleceu em 10 de abril de 1967, aos oitenta e três anos, na cidade do Rio de Janeiro.

Bibliografia de Viriato Corrêa

Minaretes, 1903.

Era uma vez…, 1908.

Contos do sertão, 1912.

Sertaneja, 1915.

Manjerona, 1916.

Morena, 1917.

Sol do sertão, 1918.

Juriti, 1919.

Sapequinha, 1920.

Novelas doidas, 1921.

Terra de Santa Cruz, 1921.

Histórias da nossa História, 1921.

Contos da História do Brasil, 1921.

Nossa gente, 1924.

Zuzu, 1924.

Uma noite de baile, 1926.

Pequetita, 1927.

Brasil dos meus avós, 1927.

Baú velho, 1927.

Balaiada, 1927.

Histórias ásperas, 1928.

Varinha de condão, 1928.

Arca de Noé, 1930.

A descoberta do Brasil, 1930.

Bombonzinho, 1931.

No reino da bicharada, 1931.

Quando Jesus nasceu, 1931.

A macacada, 1931.

Os meus bichinhos, 1931.

Gaveta de sapateiro, 1932.

Sansão, 1932.

Maria, 1933.

Alcovas da História, 1934.

Mata galego, 1934.

História do Brasil para crianças, 1934.

Meu torrão, 1935.

Casa de Belchior, 1936.

Bicho-papão, 1936.

O homem da cabeça de ouro, 1936.

A Marquesa de Santos, 1938.

Carneiro de batalhão, 1938.

Bichos e bichinhos, 1938.

No país da bicharada, 1938.

Cazuza, memórias de um menino de escola, 1938.

O país do pau de tinta, 1939.

História de Caramuru, 1939.

O Caçador de Esmeraldas, 1940.

Rei de papelão, 1941.

Pobre diabo, 1942.

O príncipe encantador, 1943.

O gato comeu, 1943.

À sombra dos laranjais, 1944.

Estão cantando as cigarras, 1945.

A bandeira das esmeraldas, 1945.

Venha a nós, 1946.

As belas histórias da História do Brasil, 1948.

A macacada, 1949.

Dinheiro é dinheiro, 1949.

O grande amor de Gonçalves Dias, 1959.

Referências

CAVALCANTE, Vanessa Matheus. O teatro de Viriato Corrêa: uma escrita da História para o povo brasileiro. 155f. Dissertação de Mestrado Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2012.

MENEZES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978.

PIAIA, Victor Rabello. “E brincando se faz a República: Viriato Côrrea, público infantil e imprensa no início do século XX.” Anais do XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio: saberes e práticas científicas. Disponível em http://www.encontro2014.rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400275_ARQUIVO_Piaia,Victor.EbrincandosefazaR epublica-ViriatoCorrea,publicoinfantileimprensanoiniciodoseculoXX.pdf.

PINTO, Genulfo Hércules. Viriato Corrêa (a modo de biografia). Rio de Janeiro: Editora Alba Ltda., 1966.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

https://www.academia.org.br/academicos/viriato-correia/bibliografia


Patrícia Fernandes de Barros Ferreira

Mestranda em Educação (ProPEd/UERJ). Graduada em Letras Português-Alemão (UERJ) e em Direito (UERJ). Técnica em Assuntos Educacionais no Colégio Pedro II, atuando no Setor de Orientação Educacional e Pedagógica.

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